Desenvolvimento Regional

Desenvolvimento, um conceito em construção

Desde o século XIX muitos estudiosos ligados à ciência econômica têm estudado as alternativas para alcançar os propósitos econômicos das Nações. Adam Smith (1776), por exemplo, na sua abordagem sobre a formação da riqueza das nações, destacou que a expansão dos mercados, da renda e do emprego está associada ao trabalho e a livre iniciativa privada.
Já, para Joseph Schumpeter (1911), o desenvolvimento (que é um fenômeno que vai além do crescimento econômico) ocorre por obra dos empresários inovadores (empreendedores) que, financiados pelo crédito, produzem inovações e conseguem gerar lucros acima da média dos negócios tradicionais.
Contudo, até a publicação da Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, por John Maynard Keynes, em 1936, as reflexões econômicas não incluíram, como eixo central, as questões relacionadas à pobreza e ao subdesenvolvimento. Isto passou a acontecer após o surgimento da contabilidade nacional, momento em que os países e regiões passaram a ser classificados como “ricos” e “pobres”.
Os pobres, caracterizados pelo baixo crescimento econômico, altas taxas de analfabetismo, elevadas taxas de natalidade e mortalidade infantil, predominância da agricultura, insuficiência de capital e com Baixa produtividade e passaram a ser conhecidos como subdesenvolvidos e isto fez com que a questão social passasse a ocupar a centralidade da atenção dos estudos econômicos, juntamente com as questões associadas à renda de modo que as condições de educação, saneamento básico, saúde, lazer e outros indicadores também passaram a ser acompanhados.
Observe, portanto, que as dimensões do desenvolvimento se alteram e passam a incorporar as questões importantes da realidade social. Neste contexto, um novo salto na compreensão do desenvolvimento foi verificado no final dos anos 1970, após divulgação dos estudos do Clube de Roma. Neste período surgiram os conceitos relacionados ao desenvolvimento sustentável, que passaram a englobar pelo menos três dimensões analíticas: a econômica, a social e a ambiental. 
Assim sendo, nesta nova fase, caracterizada pelo tratamento equitativo entre crescimento econômico, redução da miséria e preservação ambiental, o desenvolvimento passou a ser uma condição simultânea de ampliação da renda, com aumento da qualidade de vida e respeito ao meio ambiente.

 

Paradigmas para o desenvolvimento

Desenvolvimento não é produto e sim um processo de equilíbrio entre economia, sociedade e meio ambiente, que resulta na transformação e mudança socioeconômica. 
Neste contexto, tanto a educação quanto os princípios cooperativistas são essenciais, uma vez que contribuem para ampliar a consciência sobre os reais propósitos de nossa vida em sociedade.
A inovação, o empreendedorismo e a cooperação se constituem como elos centrais do processo de transformação socioeconômica. Em alguns locais, o processo de desenvolvimento surge de forma autônoma, puxado por um grande mercado consumidor ou uma demanda capaz de estimular a oferta, mas em outros deve ser estimulado. Nestes, onde deve ser estimulado, o capital social é ainda mais importante, pois majora o conteúdo estratégico do engajamento de atores políticos, empresariais, universidades, escolas, sindicatos, entidades de classe e demais organizações, sobretudo para construir um ambiente favorável à inovação, empreendedorismo e associativismo. 
Em toda a sociedade existe uma força que necessita apenas de um processo constante de alimentação, no qual as entidades devem promover um debate ininterrupto de identificação de potencialidades, fraquezas a serem superadas e definição de estratégias de superação.
Dentre as estratégias de superação, a busca constante por parcerias, seja no mundo empresarial, político ou educacional, de servir como objeto a ser alcançado. Neste contexto, estudos recentes na iniciativa Aceleração Regional permitiram identificar que: 
a) cooperação, honestidade e altruísmo são importantes e ajudam a desenvolver regiões; 
b) os municípios que apresentaram maiores índices de confiança mútua e cooperação obtiveram maior crescimento no PIB per capita, o mesmo ocorreu nos municípios que apresentaram maior pré-disposição para a ação cooperada, e inovação e políticas públicas perenes; 
c) em locais onde a inovação está mais presente, a renda per capita cresceu mais. 
O mesmo ocorreu nos municípios onde a dinâmica de formação e investimento, pelas empresas, resultou em ações de qualificação dos funcionários.
 

Educação superior e desenvolvimento

Sabe-se que o ensino superior é um dos mais importantes intervenientes do desenvolvimento econômico, social, cultural e humano em qualquer país. Não há como negar o fundamental papel das universidades nas sociedades mundiais, sendo essas responsáveis por boa parte do desenvolvimento e do progresso de muitas nações, por meio do desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, pilares esses que dão sustentação ao incremento do desenvolvimento de governos, das indústrias, das instituições e das pessoas entre outros agentes que fazem parte das sociedades das regiões geográficas que fazem parte do globo terrestre.
Nesse contexto afigura-se o valor fundamental que as universidades devem desempenhar no desenvolvimento regional e na diminuição das disparidades econômicas e sociais existentes em qualquer país, onde, por meio da formação do capital humano e da atuação desse por meio do desenvolvimento de competências adquiridas e formadas durante o período acadêmico nas mais diversas áreas do conhecimento, pode dar uma maior contribuição no poder público, o setor produtivo e a sociedade como um todo.
Destarte, as universidades de forma geral, mas principalmente as públicas têm um dever ainda maior com as sociedades nas quais estão inseridas, pois foram criadas por meio de recursos público e advindos da própria sociedade de forma geral. Nesse sentido a sua atuação no desenvolvimento e na qualificação do capital humano por meio do tripé ensino-pesquisa-extensão de ser cada vez mais eficiente e eficaz, devolvendo esse investimento nas suas regiões de abrangência. Essa devolução pode ser dada de várias formas como, incremento na oferta de vagas nos cursos de graduação e pós-graduação o que vem a contribuir cada vez mais para o fortalecimento de um capital humano cada vez mais qualificado; na intensificação em pesquisas de ponta em áreas estratégicas como, por exemplo, a tecnológica, e que vai ao encontro com as políticas públicas de desenvolvimento das regiões; ampliação de serviços extensionistas como aporte para as instituições e pessoas, melhorando o crescimento econômico e as desigualdades sociais no âmbito do desenvolvimento econômico.
Nesse contexto, não há como não trazer à tona o debate sobre desenvolvimento regional advindo da premissa de que a Universidade Pública, enquanto instituição que ajuda na formação e no desenvolvimento das pessoas e, portanto, no incremento de capital humano, tem o dever de ter forte influência tanto no crescimento quanto no desenvolvimento econômico e, portanto, social das regiões e/ou locais nas quais estão instaladas. Essa afirmação é corroborada por Carvalho (2008), quando coloca que as universidades devem fornecer uma formação crítica, criativa e emancipatória em que forme cidadãos conscientes de seu papel na sociedade, seus deveres e seus direitos, que interfira no desenvolvimento socioeconômico de sua região almejando o progresso social, além de serem capazes de inovar e acompanhar as necessidades locais. Valentim (2003) acrescenta que tanto o crescimento como o desenvolvimento econômico dependem de fontes como as economias externas, a educação, o capital humano e o capital social.
Dessa forma, quando se pensa em desenvolvimento regional, indica-se um aprofundamento reflexivo, que esteja sob a luz de estudos e teorias clássicas, neoclássicas e mais contemporâneas existentes, ampliando assim as abstrações sobre a real contribuição das Universidade no desenvolvimento regional. Certamente, este mergulho nas teorias indicadas  perpassarão pelas vertentes da teoria regional endógena muito disseminada nos anos 80 por Smith, Marshall e Schumpeter, quando trazem o capital humano, as instituições, a pesquisa, o conhecimento, a informação, entre outros, como fatores que eram considerados exógenos e, portanto, incontroláveis numa perspectiva macroeconômica, aceitos como endógenos conjuntamente com os tradicionais capital, trabalho e terra no modelo tradicional de crescimento econômico. 
Por fim, esperamos que este texto tenha despertado no leitor o interesse pela ampliação do conhecimento sobre o Desenvolvimento Regional e o papel que as Universidades têm em neste contexto. Certamente, a ideia deste texto foi de ilustrar um pouco mais sobre a educação de nível superior, mais especificamente sobre a real importância que as universidades têm no desenvolvimento regional, sob o enfoque anteriormente descrito. 

Referências:
BARQUERO, Antônio Vázquez. Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 2001.
CARVALHO, Célia Christina Silva. Universidade como agente de desenvolvimento local: um estudo do papel da Universidade Estadual de Feira de Santana nos municípios de Amélia Rodrigues e Santo Estêvão de 2003 a 2007. Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2008.
VALENTIM, Rosa de Fátima. O capital social como um dos elementos que compõem a dinâmica do desenvolvimento regional. Recife, V Encontro de Economistas da Língua Portuguesa, 5-7 de novembro de 2003.
PEREIRA, André da Silva. Uma análise do capital humano e o crescimento econômico brasileiro no período de 1970 a 2001. Porto Alegre. Tese de Doutorado, UFRGS: 2004 – 148 Fls.
 

Capital social e desenvolvimento

Quando adentramos na temática sobre capital social e sua relação com o desenvolvimento local e/ou regional, é possível se evidenciar a vasta fonte de referências que a literatura apresenta.
Entretanto, o propósito deste texto, é trazer uma pequena contribuição sobre capital social e desenvolvimento, seja no local ou regional, despertando no leitor o interesse pela temática e quiçá uma reflexão mais apurada sobre o ambiente no qual está inserido.
Um dos principais autores apontados na literatura pertinente a o tema é Robert D. Putnam, o qual infere que Capital social é um conjunto de recursos existentes nos locais. Como por exemplo, civismo, normas existentes, cooperação, confiança entre as pessoas etc. mútua que são construídos e reconstruídos nas relações sociais, bem como nos diferentes modos de organização social de uma sociedade (PUTNAM, 1996, 2002).
Putnam (2000) enfatiza que quanto mais elevado for o nível de confiança em uma comunidade, maior a probabilidade de haver cooperação. Portanto, de acordo com o autor, a própria cooperação acaba por gerar maior confiança. O autor ainda reforça que o capital social, por se tratar de uma instituição de valores, acaba por explicar a cooperação existente nos grupos sociais e, desta forma, as pessoas, participantes destes grupos, buscam constantemente o desenvolvimento e melhorias das suas próprias comunidades. Portanto, é compreensível que quanto maior for o capital social existente em uma comunidade ou grupo social, maior será a probabilidade do desenvolvimento dos locais e/ou das regiões pertencentes a essa ou esse.
Destarte, Coleman (1994), acrescenta que as pessoas, vivendo em comunidade e cooperando entre si, conseguem atender de forma mais efetiva as suas necessidades ou interesses. Logicamente que, a confiança é um fator preponderante na cooperação e facilita o compartilhamento de normas e hábitos. De acordo com o autor, isso se deve pelo fato de o capital social localizar-se nas relações sociais e não nos indivíduos.
Por fim, neste breve texto, esperamos que tenhamos trazido um esclarecimento sobre o que é capital social e de que forma esse pode contribuir para o desenvolvimento local e regional. Fica evidente que as relações sociais, a participação intensa das pessoas nas comunidades e territórios, a cooperação, a confiança, as normas instituídas, entre outros fatores que surjam, acabam por serem relevantes para a ascensão do desenvolvimento de um local, de uma região ou de um país. Deixamos a indicação da bibliografia abaixo para um maior aprofundamento desta temática.
Referências:
COLEMAN, J. S. Foundations of social theory. Harvard University Press, 1994.
PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2000.
PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

 

Accountability e desenvolvimento

A temática relacionada à accountability ganhou importância nas últimas décadas nas principais democracias internacionais. 
Definida a partir da construção de mecanismos institucionais por meio dos quais os governos são fortemente estimulados a responder por atos ou omissões perante os governados, a accountability se converteu em um conjunto de mecanismos que permitem o acompanhamento das gestões públicas. Isto é relevante, pois os atos governamentais desempenham um papel decisivo na vida econômica e política de países, estados e municípios.
Nesta perspectiva, conhecer os indicadores econômicos, sociais e ambientais do local onde se vive, analisar as estratégias de políticas públicas à luz dos indicadores socioeconômicos e ambientais e formar consciência sobre os principais desafios a serem enfrentados podem ajudar no processo de planejamento do desenvolvimento.
Clique no menu “Estatísticas de Desenvolvimento Regional” para conhecer o perfil socioeconômico e ambiental de todos os municípios que estão na área de atuação da Sicredi Alto Uruguai RS/SC/MG.